domingo, 19 de outubro de 2014

Sobre paz de espírito e família alternativa

Depois de seis anos sem poder ser eu mesma de verdade pra ninguém o espírito bom chegou pra ficar. Quem te ama precisa te amar pelo que você é, não adianta. Pose, status, popularidade, beleza exterior, roupas, cor, condição sexual, religião, dinheiro... Nenhuma dessas coisas te definem como pessoa. Porque, simplesmente, não são coisas que de definem como pessoa. O que te define também não é o que você diz. É ótimo ter ideologias, é ótimo ter boas intenções, mas no final do dia o que te define mesmo são as suas ações. Aquilo que você faz perante as pessoas e as situações. Durante muito tempo eu me achava ridícula por odiar o mundo, por querer muda-lo e ter criado a consciência de que eu nunca conseguiria só pelo fato das pessoas que estavam a minha volta provarem isso. Eu me excluí, me anulei. Viver parecia ser a coisa mais absurda naquele momento. Sempre que tinha a oportunidade dormia 13 horas seguidas, acordava e tinha o mesmo pesadelo na minha frente: A vida real. Então eu ia pra escola, dormia nas aulas e só assistia as de filosofia e sociologia (amo literatura, mas naquela época minha professora era péssima). Chegava em casa e tinha o meu refúgio, o computador, e aquilo parecia um mundo tão mágico. Queria saber porque nunca conhecia essas pessoas na vida real. Sempre quis saber porque ninguém me perguntava o que eu tinha porque era impossível que nenhum deles percebesse que o meu mundo estava caindo. Na verdade todos achavam que eu era antipática, não queria ter amigos, não queria conversar. Nem mesmo a minha família, eles só sabiam cobrar, só sabiam pedir coisas que na época eu nem mesmo tinha força emocional pra cumprir, mas ninguém se importava, ninguém perguntava como foi meu dia.
Eu não tive a coragem de me matar então finge que vivia enquanto existia, fazia as tarefas que pra todos pareciam tão fáceis, mas que pra mim mesmo que pela metade parecia que custava um vida inteira. Pode parecer drama, mas quando você tem esses problemas ninguém tem noção de como é quando até mesmo um prato de vidro cai. Você chora e se chama de ridícula, patética. Você olha no espelho e não vê nada de interessante ali. Você vê o mundo falando pra você se cuidar, se arrumar, porque ninguém vai gostar de você assim, enquanto os únicos esforços cabíveis foram usados pra levantar da cama.
Sempre pensei que uma hora ou outra eu ia acabar me matando porque tinha depressão (não estou banalizando, até porque odeio quando ficam romantizando esse tipo de coisa), mas eu aprendi a sonhar de novo e conheci pessoas que sonham como eu sempre sonhei. Obviamente não devo descartar o meu amadurecimento como pessoa pra algumas coisas terem mudado. No entanto, me sinto mal de não ter conhecido vocês todos antes, mesmo os que eu não falo muito, só de longe. Nesse lugar até o cafezinho é nota mil, é sete horas da manhã e o porteiro está sorrindo pra você. As pessoas criticam e problematizam o mundo, elas querem respostas. Agora isso aqui vai parecer uma propaganda, mas não poderia deixar de citar e agradecer o Alternativo porque foi graças a ele que minha vida mudou drasticamente esse ano. Esse lugar tem fama de realizar sonhos, mas muito além disso ele primeiramente fez com que eu aprendesse a viver, de novo, porque fazia tempo em que eu não sabia como se fazia isso.
Ainda nem acabou, mas já tô chorando de saudades...


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